Outro documento que defende o suposto traidor é o Evangelho apócrifo que ficou conhecido como "Evangelho de Judas". Uma cópia desse manuscrito foi revelada em 2006. Pesquisadores acreditam que o texto foi escrito originalmente por volta do século 2, já que ele foi mencionado em uma carta escrita pelo bispo Irineu de Lyon em 178 d.C. Segundo o testo, Judas teria apenas acatado um pedido de Jesus ao entregá-lo para as autoridades romanas. Nessa versão, Iscariotes era i apóstolo mais próximo do mestre - daí o pedido ter sido feito a ele.
Mesmo se levarmos em conta só os evangelhos canônicos, alguns pesquisadores acham pouco verossímeis as passagens que incriminam Judas. É o caso de John Dominic Crossan: "Para ser sincero, eu vou e volto com esta questão. Mesmo quando respondo afirmativamente [ que Judas de fato traiu Jesus], penso nisso como remotamente possível", diz ele. Durante a sua ultima semana de vida, Jesus era protegido pela presença da multidão durante o dia ("Procuravam então prendê-lo, mas temeram a multidão", Marcos, 28:12_, e se protegia ao sair de Jerusalém e ir pra Betânia, onde estava hospedado, durante a noite. Na opinião de Crossan, as autoridades romanas não precisaram da ajuda de Judas para encontrar Jesus: "Certamente as autoridades teriam descoberto por si próprias o lugar exato para interceptar Jesus. Então, Judas era mesmo necessário? Essa é minha maior objeção com a figura histórica de Judas como traidor". Por esse ponto de vista, o episódio da traição de Judas teria sido criado para facilitar a conversão dos romanos ao Cristianismo. Na época, parte da população do império romano já começava a se converter, e não ficaria bem se a maior parte da responsabilidade pela morte de Jesus recaísse justamente sobre um romano, Pôncio Pilatos. É o que Cheviratese defende: "Pessoas vindas do ambiente politeísta, principalmente das elites romanas, já estavam se convertendo ao cristianismo por volta de 70 d.C. Por isso, os evangelhos fazem Pilatos lavar as mão".
Fonte Revista Super Interessante